quinta-feira, 13 de junho de 2013

QUANDO NIETZSCHE CHOROU


Autor: Irvin D. Yalom

Título original: When Nietzsche wept


Quando há uns meses li "A cura de Schopenhauer" fiquei convencido que teria de voltar a este autor. Irvin Yalom tem neste livro a sua obra mais famosa, e apesar de não me ter marcado tanto quanto "A cura de Schopenhauer", é uma obra de inegável qualidade.

Neste livro temos a participação de três personalidades que marcaram o seu tempo: Freud, Breuer e Nietzsche. Sendo assim, acredito que uma das maiores preocupações de um autor que "invoca" tais personalidades é torná-las coerentes. Neste caso o autor não teria tarefa fácil, principalmente para criar um Nietzsche que estivesse ao nível intelectual e filosófico que seria exigido, e o autor não falhou. 

Aliás, um dos grandes trunfos do livro é o grande conhecimento de Yalom sobre a filosofia de Nietzsche, e com ela molda toda a sua personalidade. A partir dessa definição, o autor dá-nos um filósofo perto de atingir o desespero que o poderá levar ao suicídio, e vemo-nos como espectadores de uma conversa terapêutica onde Breuer e Nietzsche irão perceber como uma conversa pode ser uma simples forma de encontrarmos respostas sobre nós mesmos. 

Com estas duas personagens perto de perderem o rumo da vida, ou pelo menos, o suposto rumo, somos inundados por um conjunto de diálogos onde sentimos a mestria do autor. É verdade que existe um ou outro momento onde o rumo da conversa parece algo forçado, mas rapidamente esqueci esse detalhe graças à qualidade das falas destes dois homens. 

Todos nós temos segredos. Manter um segredo sobre um pessoa não é falta de amor por essa pessoa, por vezes nem falta de confiança na mesma. Talvez seja vergonha, talvez seja falta de amor próprio.. não é isso que está em causa. O que é real, é que todos escondemos algo, por vezes eternamente, por vezes até de nós próprios. E por isso pergunta-mo-nos: quão libertador pode ser olharmos um amigo, destruir todas as barreiras e falarmos sem segredos, sem medos, sem vergonha? É isso que estes dois personagens tentam fazer, e com eles vemos a importância da amizade, da compreensão e da vontade de ajudar alguém.    

É verdade que existem outras personagens interessantes neste livro, como por exemplo Freud, mas a força narrativa de Breuer e Nietzsche tornam o livro muito focado nos seus problemas. Vemos como a psicologia pode ajudar a filosofia, e vice-versa, mas principalmente vemos como a honestidade, o amor e a amizade podem construir algo que nada possa derrubar. Claro que não é fácil, e cada um terá o seu caminho, mas se fizermos o que estas personagens fazem, poderemos aprender algo com esta leitura... para isso temos de olhar para nós mesmos, vermos o que está escondido, o que quase foi esquecido mas ainda nos influencia. E quem sabe, talvez nos libertemos das obsessões ou medos que prendemos dentro de nós... Solidão, rotina, insucesso... tudo isto mata, só que muito devagar.

A quantidade de ideias que este livro nos oferece daria para várias horas de discussão. Algumas são sábias, outras radicais, mas a grande maioria são atuais e levam-nos a questionar não só a natureza humana, mas também algumas definições, como por exemplo o que é o sucesso. Teremos a capacidade de ter a nossa própria definição ou seremos levados pela construção cultural?

Para finalizar digo o seguinte: este é mais um grande livro deste autor. Não me marcou tanto quanto "A cura de Schopenhauer", o que era realmente difícil, mas é um livro que deve ser lido por quem gostar do género. É uma obra de grande qualidade, sólida, coerente e que me agarrou com facilidade. Mérito ainda do autor em colocar no fim uma explicação sobre o que é facto e o que é realidade, tornando tudo ainda mais interessante. 

Luís Pinto

7 comentários:

  1. Um dos melhores textos que já escreveste. Convenceste-me ainda não ia a meio. Parabéns.

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  2. Adoro este leitor. Sou uma grande fã dos seus livros e este é um dos meus preferidos. Acho que devias ler mais livros dele porque acho que são todos muito bom. Aconselho.

    Sobre a tua opinião está muito interessante como é teu hábito. Este é daqueles casos que depois de ler a tua opinião até vi algumas coisas interessantes que me tinham passado ao lado na leitura.

    Continua com o bom trabalho e boas leituras!

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  3. Grande livro, grande crítica. E está tudo dito. Recomendo totalmente!

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  4. Convencido com esta análise mas é verdade que já estou convencido há algum tempo a ler este livro. Parabéns e ainda bem que me reavivaste a memória.

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  5. Parabéns pelo texto de inegável qualidade, o que já é a tua imagem de marca.
    Já li este livro e também o recomendo mas não tenho a capacidade para escrever um texto como tu. Para todos os que gostem deste género acho que se trata de um livro com um conhecimento profundo do que é a mente humana e deve ser lido.

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  6. Também te agradeço a sugestão Luís. Vai ser uma boa compra para oferecer ao meu pai.

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  7. Obrigado a todos pelos comentários!

    Fico à espera de opiniões a este livro!

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