sábado, 19 de julho de 2014

AS RAPARIGAS CINTILANTES


Autor: Lauren Beukes

Título original: The Shining girls



Sinopse:
CHICAGO, 1931: Harper Curtis,um vagabundo paranoico e violento, dá de caras com uma casa que possui um segredo tão chocante como a natureza distorcida de Curtis: permite o acesso a outras épocas. Ele usa-a para perseguir as suas raparigas cintilantes – e tirar-lhes o brilho de uma vez por todas.
CHICAGO, 1992: Diz-se que o que não nos mata nos faz mais fortes. Experimente dizê-lo a Kirby Mazrachi, cuja vida ficou devastada depois de sofrer uma brutal tentativa de assassínio. Continua a tentar encontrar o agressor, tendo como único aliado Dan, um ex-repórter de crime que cobrira o seu caso anos antes. À medida que prossegue a sua investigação, Kirby descobre as outras raparigas, as que não sobreviveram. Os indícios apontam para algo… impossível. Mas para alguém que devia estar morto, impossível não quer dizer que não aconteceu…



Devo começar esta opinião com o seguinte facto: este é um policial que se mistura com ficção-científica, e digo que é um policial porque a autora não é, claramente uma escritora de FC nem o tenta ser neste livro. Aliás, este é o aspeto mais marcante do livro: a autora nunca pretende tornar este livro em algo mais do que um policial puro, que apesar de ter como conceito base um elemento de ficção-científica, esse elemento é um dado aquirido, que não será explicado, porque para o desenrolar do enredo não é necessário.

Posto isto, este é um livro dividido em duas personagens e também em duas épocas diferentes. A autora tem a capacidade de nos agarrar desde o início, mesmo quando o livro é confuso e difícil de assimilar. Nas primeiras páginas senti-me algo perdido, tanto pela falta de algumas explicações, mas principalmente pelos saltos narrativos, mas a meio do livro já tudo era intuitivo. A autora tenta manter um equilíbrio na sua forma de narrar e assim tudo acaba por se tornar mais fácil, pois vamos percebendo e até antevendo as ligeiras mudanças e saltos que existem, tornando a última metade do livro numa leitura muito mais rápida e coerente.

O nosso foco está em duas personagens, Kirby e Harper, e se iremos simpatizar com Kirby e querer que se safe, é Harper o grande personagem deste livro, com a sua mente distorcida e caráter violento.  É a sua forma de pensar que nos leva a tentar perceber o porquê do que faz e como se vê a si próprio. Na grande maioria dos policiais é necessário, devido à estrutura do livro, um bom vilão, e aqui a autora consegue-o, mesmo que muito fique por explicar e tendo em conta que nunca sentiremos qualquer simpatia por este homem, a verdade é que quis saber onde iria falhar tendo em conta que devido à casa (que permite viajar no tempo) as suas possibilidades de sucesso são enormes.

Outro aspeto interessante é a intensidade que o livro oferece. Quando chegamos ao final percebemos que estivemos em constante aceleração e este é um dos aspetos que ganha com o facto de muito do que está neste livro com traços de FC não ser explicado. Há um foco constante na intensidade e no suspense criado entre estas duas personagens. Por vezes é previsível mas muitas vezes surpreende, e a verdade é que em alguns aspetos este livro diferencia-se da generalidade dos policias... onde? na forma de nos mostrar que a sorte de uns é sempre o azar de outros, e o quanto um momento nos pode mudar para sempre. Claro que muitos policiais recorrem a estes temas, mas a base de FC oferece uma nova perspectiva.

O único problema que podemos apontar ao livro é o facto de ao não explicar tudo, fica sempre a sensação que o assassino detém demasiado poder. A capacidade de viajar no tempo dá-lhe, à primeira vista, a possibilidade de não falhar. As possibilidades tornam-se quase ilimitadas, e apesar de a autora, e bem, explorar a mente perturbada de Harper para explicar momentos e decisões que podem de outra forma parecerem forçados, fica a sensação que estamos perante um problema (para a autora) que não é fácil de resolver. Mesmo assim, acho que a autora se safou bem com dois ou três pormenores que tornam algumas decisões mais coerentes. 

Falar mais sobre enredo ou outras personagens, seria revelar pormenores que o leitor deve descobrir por si mesmo. O importante neste caso é percebermos que este é um policial e, no meu caso, enquanto grande fã de FC, custou-me não ver explicações e criar perguntas que não são respondidas. Por outro lado, agradou-me a intensidade de um livro que é um policial a cada página e que consegue ser um thriller intenso e bem estruturado na sua grande maioria. Não é um livro fácil no início, mas compensa o esforço a partir de meio, e se ficaram curiosos com este mistura de thriller e FC, então de certeza que gostarão deste livro. Por vezes fquei bastante agradado, por vezes queria que o livro tivesse diálogos mais longos que aprofundassem certas personagens, mas, novamente, voltamos à questão da intensidade, do ritmo elevado, de nos levar a continuar a ler, e é o que este livro consegue com grande facilidade. Fãs de policiais, está aqui um livro a ter em conta e que será lido sempre em aceleração!

Luís Pinto

3 comentários:

  1. Gostei da tua análise. Parece um livro interessante e singular. Vou estar com ele debaixo de olho.

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  2. Também me parece um policial singular e gostei da opinião do Luís. Não conheço a escritora mas já fui pesquisar e falam bem dela. Parece um livro a apostar.

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  3. Fiquei convencido a ler.

    Boas leituras e parabéns pelo texto.

    Petro.

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