terça-feira, 31 de março de 2015

UM ERRO FATAL


Autor: Sophie Hannah

Título original: The telling error




Sinopse: A manhã que mudou a vida de Nicki Clements seria como tantas outras se o seu filho não tivesse esquecido a mochila em casa.Foi com o objetivo de lha entregar que ela saiu. Não planeara passar vezes sem conta pela casa do controverso jornalista Damon Blundy, recentemente assassinado. Mas a verdade é que passou...É a estranheza do seu comportamento que leva a polícia a interrogá-la. Nicki diz a verdade: não conhecia Damon. E não, não sabe explicar a enigmática arma do crime. Nem tão-pouco entende a mensagem que o assassino escreveu a tinta vermelha na parede da vítima: “Ele não está menos morto”. O problema é que não poderá nunca revelar porque estava tão perto do local do crime. Se o fizer, terá de confessar um segredo que a destruirá. É que Nicki pode não ser culpada, mas está longe de ser inocente... 



Apesar de fazer parte de uma série, este é um livro que pode ser lido de forma independente sem qualquer perda de detalhe por parte do leitor. Sendo assim, e após ter lido um livro muito interessante da autora (ver opinião aqui), decidi regressar para mais um policial mesmo tendo em conta que a capa do livro não me cativou de imediato.

Este não é um livro fácil, apesar da sua inegável qualidade. O seu ritmo é baixo, o detalhe é importante e o segredo está na sua montagem narrativa, com a nossa visão a saltar entre personagens, levando a que as revelações cheguem no momento certo, quando menos esperamos. O resultado é uma leitura com constantes dúvidas em que é difícil criarmos a nossa própria investigação, pois a autora sabe como nos enganar.

Em grande parte, este é um livro psicológico. A autora explora o enredo de uma forma muito inteligente, levando-nos a ter dúvidas a cada página, mas, principalmente, a não conseguir criar uma noção definitiva em relação à principal suspeita, Nicki. E é nesse impasse que vamos lendo e tentamos perceber o que a autora nos diz entre linhas, levando a que o jogo psicológico seja constante até chegarmos ao momento final em que é relevada toda a verdade e será, quase de certeza, uma surpresa para quem o ler.

Com personagens interessantes, é a ligação entre elas que me agradou. É difícil ver todas as ligações numa fase inicial, e serão essas ligações que se tornam no catalisador da própria investigação. Mas, o que, na minha opinião, faz a diferença é o facto de a autora conseguir levar um leitor a nunca saber se Nicki está ou não inocente em algumas questões. Pelo meio, a autora explora, mesmo que suavemente, algumas questões morais da nossa era tecnológica, sobre os seus benefícios mas também para os seus perigos, que por mais que sejam divulgados, nunca serão irradicados.

Apesar de não ser o melhor livro que já li da autora e apesar de deixar algumas (poucas) perguntas sem respostas, a verdade é que gostei bastante deste policial. A sua carga psicológica é o seu trunfo e a forma como a autora revela pormenores faz a diferença. São várias as reviravoltas que nos deixam surpresos e a grande maioria faz sentido assim que acontecem, nunca existindo a sensação de algum forçar de acontecimentos.

Sophie Hannah é uma aclamada escritora no seu género e este livro é mais uma prova do porquê. Não é uma obra prima mas agradará aos fãs do género e fez-me querer mais livros da autora. Uma leitura muito agradável e cheia de mistério.

Luís Pinto

segunda-feira, 30 de março de 2015

HITLER


Autor: Giulio Ricchezza





O fascinante em Hitler foi a forma como, com um discurso claramente cheio de maldade, conseguiu convencer toda uma nação. Afinal quem era este homem que conseguiu levar uma nação a deixar para trás básicos valores morais?

Este livro, apesar de não abordar todos os temas e de deixar algumas perguntas sem respostas, é dos relatos mais completos que li sobre Hitler, principalmente porque se foca bastante nos seus motivos, na sua forma de pensar e em quais era os seus planos iniciais, dando ao leitor uma imagem que encaixa no seu discurso e nos seus métodos.

A isto o autor junta uma boa pesquisa sobre os grandes seguidores de Hitler, que ocuparam cargos importantes e que alargaram ainda mais os horizontes de um homem que era, em termos físícos, uma figura sem grande impacto, mas que apresentava um discurso emotivo e forte, capaz, como se viu, de motivar milhões.

Este relato, tanto da vida de Hitler, como da parte psicológica de um dos homens mais marcantes das últimas centenas de anos, é perturbador porque vemos que não foi preciso muito para Hitler alcançar os seus objetivos básicos. A grande diferença de Hitler para muitos outros que poderiam, e que poderão, partilhar as suas ideias, está no seu incansável trabalho. Hitler não descansou até chegar ao topo e depois não descansou até ser o único no topo.

Pelo meio, Hitler viu, como poucos, o que é necessário para mover a população com uma capacidade de propaganda que levou milhões a quererem matar outros milhões, a perseguirem vizinhos, a denunciarem amigos, a acharem-se superiores... Talvez, a grande diferença de Hitler para outro, está no facto de ter quebrado as barreiras da sociedade que levam uns a pisar outros, e aos poucos, todas as atrocidades que iam aparecendo eram apenas mais um meio, apenas mais um passo em frente na banalidade que eram tais atrocidades.

O autor escreve com objetividade e criou uma estrutura interessante para este livro, que nos leva a continuar a ler com os seus factos interessantes. Como indiquei no início, há alguns temas que gostaria que fossem mais explorados, e algumas perguntas que criei ficaram sem resposta, mas para tal talvez fosse preciso um livro com o dobro do tamanho, porque o trabalho de Hitler é de tal forma extenso que nunca se conseguirá resumir num livro. No entanto, este é um dos melhores livros que já li sobre Hitler, com um ritmo interessante e um olhar abrangente.

Aconselhado a todos os que queriam saber mais sobre a principal mente do mundo nazi, sobre as suas ambições, medos e motivos. Para mim foi uma excelente leitura e acredito que também o seja para muitos outros.

Luís Pinto

quinta-feira, 26 de março de 2015

LINDA - Como no homicídio Linda


Autor: Leif G. W. Persson

Título original: Som i Lindamordet




Sinopse: Evert Bäckström, um inspetor «atarracado e primitivo» faz a sua estreia no primeiro livro da trilogia com o seu nome.
Durante um verão invulgarmente quente na Suécia, em que a grande notícia são mesmo as temperaturas, uma jovem é assassinada. Os principais efetivos da polícia de Estocolmo estão de férias e o caso é entregue a Evert Bäckström, um homem que dá mais trabalho do que cem delinquentes, se não mais.
Enquanto o homicídio de Linda ocupa as primeiras páginas dos jornais sensacionalistas e dos noticiários televisivos, Bäckström lidera uma investigação que quase lhe escapa das mãos, não fosse o esforço extraordinário da sua equipa.
Uma magnífica intriga policial, onde brilha sobretudo a sátira através do seu protagonista, o anti-herói e politicamente incorreto Evert Bäckström.



Já adaptado para uma série televisiva e com um prémio prestigiante, este livro chamou-me a atenção e foi uma leitura interessante, apesar de diferente do que estava à espera.

Começando pelos dois aspetos que podem afastar alguns leitores, temos o ritmo e o personagem principal. O ritmo lento é o resultado de uma investigação muito meticulosa. O autor dá grande destaque ao detalhe, principalmente na primeira metade do livro em que a investigação não tem grandes pistas para avançar. Tal facto pode levar alguns leitores a afastarem-se mas também levará outros a apreciar o detalhe da investigação e o desafio que é quase começar a investigar algo a partir do nada. Pessoalmente, apreciei os destalhes em alguns momentos, tal como gostava que tivesse acelerado noutros, mas notei que o autor tentou manter sempre um ritmo que me fizesse ter atenção ao detalhe para que no final tudo tivesse sentido.

O outro aspeto que poderá afastar alguns leitores é o quase intolerável personagem principal. O inspetor que iremos seguir tem um grande conjunto de defeitos que impossibilitam qualquer ligação entre nós e este personagem, que, paradoxalmente, nos consegue fazer sorrir com o seu mau feitio. Todavia, e apesar de não existir ligação entre leitor e personagem, o desejo é comum: o de desvendar tudo sobre este caso. A questão mais importante é que por vezes quase que sabe bem termos pela frente um inspector que não é movido totalmente/apenas por valores morais. A sua forma de ver o mundo é, por incrível que possa parecer, um dos grandes catalisadores deste livro, e mesmo nunca tendo ligação com ele, percebo o porquê de ter sido a criado desta forma pelo autor, não deixando que o investigador seja o outro extremo moral em relação ao assassino.

Em termos de investigação, e retirando o ritmo baixo, tudo é bastante aliciante se tivermos vontade de perceber onde está o erro e acreditando que o autor nos poderá estar a enganar. Acima de tudo é uma investigação inteligente que encaixa bastante bem nos pensamentos e nos diálogos do nosso personagem principal. Existem, claro, outros personagens com qualidade, mas a personalidade insuportável do investigador eclipsa tudo o que esteja à sua volta, quer para o bem, quer para o mal... sendo, claramente o que irão recordar deste livro daqui a uns anos.

Apesar de não ter criado qualquer ligação com este homem, a verdade é que é ele o livro, é ele o motor e é ele quem dá qualidade ao enredo. Numa atmosfera pesada e quente, num ritmo lento e meticuloso, vemos uma investigação que em certos momentos parece grande demais e arrastada, mas que será apreciada pelos que gostam dos detalhes da investigação. Aliás, os prémios e o sucesso que teve são prova disso.

Luís Pinto

quarta-feira, 25 de março de 2015

A QUIMERA DE PRAGA


Autor: Laini Taylor

Título original: Daughter of Smoke and Bone




Sinopse: Pelos quatro cantos do mundo, marcas de mãos negras começam a aparecer nas portas, gravadas a fogo por estranhos seres alados, saídos de uma fenda no céu.
Numa loja escura e empoeirada, o abastecimento de dentes humanos de um demónio começa a ficar perigosamente reduzido. E nas ruelas labirínticas de Praga, uma jovem está prestes a embarcar numa jornada sem retorno.
O seu nome é Karou. Karou não sabe quem é, nem porque vive dividida entre o mundo humano e a sua família de demónios, mas crê que as respostas podem estar para lá de uma porta nos recantos sombrios de uma loja, ou no confronto com um completo desconhecido, de olhar abrasador e aparência divina - o anjo que queimou as entradas para o seu mundo, deixando-a só.



O que mais me agradou neste enredo foi a sua mistura entre a realidade e a fantasia. Este livro, que na versão portuguesa apresenta um nome totalmente diferente da tradução do original, mas que encaixa muito bem na história, é uma boa introdução a um mundo que, ao ver por este primeiro livro, está muito bem conseguido.

Sendo uma trilogia há muito que fica por contar nestas páginas, mas é, claramente, um boa introdução dentro do género. No entanto, este não é um livro fácil, porque com alguns saltos temporais, o enredo torna-se complexo e poderá afastar alguns leitores no início, mas a satisfação está no final, quando percebemos que toda a história começa a convergir para proporcionar um final que explica bastante e que faz sentido mesmo tendo em conta que estamos no início da trilogia.

Karou é uma personagem interessante, que demoru algum tempo a convencer-me mas que consegue criar uma ligação com este mundo, parecendo credível desde o início. Claro que, tal como o próprio enredo, também Karou apresenta alguns clichés dentro do género e que talvez sejam desmantelados nos próximos livros. Por outro lado, o enredo convence desde o primeiro minuto, não só pelo contraste que a autora demonstra entre os dois mundos que se ligam, mas principalmente porque a sua escrita consegue transmitir uma aura de mistério que melhora bastante toda a leitura. 

Na segunda metade do livro começamos a perceber onde este livro nos irá levar. O agradável, mesmo tendo em conta que existem alguns desfecho óbvios, é perceber o quanto a autora consegue juntar várias peças e o quanto nos oferce já neste primeiro livro, não se limitando a deixar as respostas todas para depois. O trunfo será mesmo esse, porque ao dar respostas, consegue convencer o leitor a ler os próximos com novas perguntas.

Pelo meio, a autora explora alguns temas interessantes, como a diferença social e o quanto nos podemos sentir sozinhos mesmo numa cidade com milhares de pessoas. A perspectiva dada na narrativa é marcante porque tem tanto de ficção como de realidade, encanixando no que conhecemos, e dando vontade de conhecer melhor esta cidade de Praga. Mencionar ainda que existe um pequeno conjunto de personagens bastante interessantes mas que foram pouco exploradas e gostava de as ver mais aprofundadas nos próximos dois livros.

Construir uma fantasia credível tendo como base a nossa realidade não é fácil. Neste caso, existem alguns clichés mas a autora cria uma base muito interessante e que me faz querer ler os próximos. Para já é um início viciante e que acredito que irá viciar aqueles que gostem deste género, principalmente o público mais jovem.

Luís Pinto

segunda-feira, 23 de março de 2015

JOHN E GEORGE


Autor: John Dolan

Título original: John and George - The dog who changed my life



Sinopse: Esta é a incrível história de vida de John Dolan, um famoso artista de rua londrino que deve a sua felicidade à profunda amizade que o une a George, um bull terrier muito especial que o salvou de uma existência sem sentido e profundamente autodestrutiva. Durante muitos anos, John conheceu um quotidiano duro e completamente desprovido de esperança, chegando mesmo a viver nas ruas como sem-abrigo, até ao dia em que lhe pediram para ficar com George. Este seria o ponto de viragem na sua vida. John recuperou um talento há muito esquecido, o desenho, e é hoje um dos artistas de rua mais conceituados de Londres.

Esta é, obviamente, uma incrível história de amizade entre um homem e um cão, sendo um caso óbvio no qual dois seres vivos criam uma amizade indestrutível porque só se têm um ao outro. E é este sentimento que também une o leitor à história de um sem abrigo que, ao começar a tomar conta de um cão, vê na sua vida um novo sentido e uma nova necessidade de responsabilidade por algo mais do que ele.

Com um ritmo agradável e uma estrutura bem criada, esta narrativa dá-nos o essencial, e mesmo percebendo que é um livro com falhas, e que poderia dar mais informações sobre alguns aspetos, é difiícil não o ler sem parar.

Acredito que seja difícil para a grande maioria dos leitores não criar uma ligação com esta história que, indiretamente, nos demonstra que nunca devemos desisitir e que a força de vontade fará a diferença. John, que tem um talento agora reconhecido, é o espelho do quanto uma vida pode mudar no mais inesperado dos momentos, neste caso ao aceitar cuidar de um cão quando quase não conseguia cuidar de si.

A história deste homem, aqui descrita de forma direta, torna-se quase inspiradora. Não existe muito que se possa analisar num livro assim. Este não é um enredo empolgante com fantásticas personagens de ficção, mas sim um enredo sobre uma de muitas formas que nos podem ajudar a ultrapassar problemas. Neste caso, George, apenas mais um entre os milhões de fieis cães espalhados por este mundo, que nos dão alegrias todos os dias, sempre que os vemos, verdadeiros e amigos, sempre prontos para nos darem a sua companhia. 

Este livro é mais um entre tantos sobre cães e os seus donos. Inevitavelmente, a amizade com este cão será a maior obra de arte deste agora famoso artista, porque este laço foi a obra que lhe salvou a vida, e é por isso que devemos ler este livro, para perceber como um cão, com a sua fidelidade e amizade, consegue mudar a vida a um homem. Se apreciam este género de história, esta será uma excelente leitura, capaz de nos fazer sorrir.

Luís Pinto

sexta-feira, 20 de março de 2015

A MULHER MÁ


Autor: Marc Pastor

Título original: La mala dona




Sinopse: Barcelona, 1912. Há crianças a desaparecer. Quando um cadáver é encontrado numa viela estreita, dilacerado e sem um pingo de sangue, surgem rumores bizarros sobre um «vampiro» que se move pelas sombras da cidade e que anda a roubar as almas dos inocentes.
Para a polícia trata-se apenas de mais um cadáver, num lugar onde a morte e o crime são tão frequentes que se tornaram banais. E quanto às crianças desaparecidas, ninguém quer saber dos filhos das prostitutas que povoam Barcelona.
Mas para o inspetor Moisès Corvo — um polícia rude e dissoluto, mas com um sexto sentido peculiar — este é um mistério que tem de ser resolvido, com um criminoso que afinal é uma mulher.
Gótico e chocante, A Mulher Má revela um mundo macabro, uma história verídica que nos faz duvidar de um dia ter realmente existido uma mulher tão pérfida, capaz de crimes tão monstruosos.


Comecemos pelo fundamental: este enredo é baseado na história verídica de uma mulher, Enriqueta, que ficou conhecida como uma das mais mortíferas serial-killers de sempre. Prostituta, bruxa, protegida pela alta sociedade, ainda hoje não se sabe o número total das suas mortes.

O autor pega nesta personagem e cria um livro onde a personalidade desta mulher é a base, sendo, ao mesmo tempo, o grande trunfo e onde o livro acaba por falhar. E porquê? Porque o autor recria uma personalidade que nos faz querer saber mais, só que o autor não aprofunda a personagem até onde o leitor irá querer. O livro acaba, e queremos saber mais. Com tal facto constatamos que o autor faz um excelente trabalho ao recriar Enriqueta, e falha ao não perceber que ela deveria ter ainda mais protagonismo porque a sua recriação é mesmo muito boa. À nossa frente está uma mulher capaz dos atos mais horrendos, que irão facilmente chocar o leitor e levar-nos a pensar até onde pode ir o ser humano.

Com uma escrita simples e objetiva, o autor leva-nos a acelerar a leitura e as pouco mais de 260 páginas são lidas a grande velocidade, tentando conhecer mais esta personagem, tentando perceber o porquê, querendo saber onde irá falhar para ser apanhada. Para além disso, o autor arrísca com os narradores que apresenta, mas sai vencedor, conseguindo criar um ambiente interessante e uma narrativa apelativa, sempre com objetividade. Destaque ainda para as descrições fortes e curtas do autor sobre a cidade e sobre as pessoas, mas principalmente sobre os atos de Enriqueta, levando-me a afirmar que este não é um livro para todos, pois apresenta vários momentos fortes.

Por fim, devemos também salientar o inspetor, um personagem bastante realísta, com deveitos e virtudes, capaz de cometer os erros normais que se pedem numa personagem credível, mas com o qual sentimos a capacidade necessária para resolver esta situação, principalmente porque ele é o espelho da pequena parcela da comunidade que se preocupa, não olhando apenas ao seu estatuto e ao das pessoas que ajuda. O resultado final é a imagem de uma sociedade que não se preocupa e que não ajuda, mas algumas pessoas fazem a diferença. Esta é uma luta entre o mal personificado e um simples homem que tenta desvendar um mistério que nos transporta para o pior do ser humano.

Este não é um livro que se destaque pela sua história, mas sim por uma personagem que marca o leitor. Não é uma leitura fantástica mas para mim foi muito viciante e que não irei esquecer, principalmente porque, mesmo sabendo que esta é uma obra de ficção, sabemos que é inspirada em factos reais, o que choca. Acredito que todos os leitores que olhem para esta sinopse e fiquem curiosos, gostarão do livro e ficarão marcados por esta mulher e por este ambiente sombrio de Barcelona.

Luís Pinto

Passatempo: John e George - Vencedor!


PASSATEMPO

John e George

Vencedor!


Em colaboração com a Editorial Presença chegou ao fim mais um passatempo, desta vez com um livro sobre a história verídica de John e o seu cão George.

A todos osque participaram, muito obrigado e desejov-os melhor sorte para a próxima!

E o vencedor é: 

 Andreia Pombal

Parabéns à vencedora!


Sinopse: Esta é a incrível história de vida de John Dolan, um famoso artista de rua londrino que deve a sua felicidade à profunda amizade que o une a George, um bull terrier muito especial que o salvou de uma existência sem sentido e profundamente autodestrutiva. Durante muitos anos, John conheceu um quotidiano duro e completamente desprovido de esperança, chegando mesmo a viver nas ruas como sem-abrigo, até ao dia em que lhe pediram para ficar com George. Este seria o ponto de viragem na sua vida. John recuperou um talento há muito esquecido, o desenho, e é hoje um dos artistas de rua mais conceituados de Londres.

quarta-feira, 18 de março de 2015

A 5ª VAGA


Autor: Rick Yancey

Título original: The 5th wave




Sinopse: A 5ª Vaga, o volume que dá início à trilogia com o mesmo nome, é uma obra-prima da ficção científica moderna. É um épico extremamente original, que nos apresenta um cenário de invasão extraterrestre do planeta Terra como nunca antes foi escrito ou sequer imaginado. Nesta narrativa assombrosa, uma nave extraterrestre fixa-se na órbita da terra, à vista de todos mas sem estabelecer qualquer interação. Até que, subitamente, uma gigantesca onda eletromagnética desativa todos os sistemas da Terra, e todas as luzes, comunicações e máquinas deixam de funcionar. A esta primeira vaga seguem-se outras, num crescendo de violência que devasta grande parte da humanidade.



O que torna este livro no fenómeno que é, é uma mistura de vários conceitos já vistos em ficção científica, quer seja livros ou filmes, mas que nunca tinham sido misturados desta forma. A isso o autor adiciona o toque final numa fórmula muitas vezes vencedora dentro do género adolescente: criar um par de adolescentes que, ao serem as personagens principais, carregam a esperança do que os rodeia.

Torna-se óbvio, devido ao facto de as personagens principais serem dois adolescentes, que este livro é para adolescentes. No entanto, alguns dos temas aqui explorados são bastante adultos, notando-se apenas que o autor nunca explora totalmente um tema que poderia tornar o livro demasiado pesado. Tal nota-se, principalmente, nos momentos de perda que, apesar de aprofundados, são deixados para trás para que o livro não se torne apenas num enredo sobre sobrevivência.

A ideia base do livro, que é a invasão extraterrestre por fases, é algo inteligente, sendo, ao mesmo tempo, o trunfo mas também onde se encontram as falhas deste livro. O que o autor deseja criar é uma invasão inteligente e com sentido, fugindo dos clichés que o género criou para nos dar a sensação que não existe esperança para uma humanidade muito atrasada em relação aos seres invasores. No entanto, ao elevar as expectativas, acaba por não conseguir cumprir com algo totalmente coerente, não por ineficácia, mas porque não revela tudo. Posto isto, o problema deste enredo é ser apenas o início, e ao não dar todas as respostas (obviamente terão de ficar muitas para se responder nos próximos livros) o livro não consegue ter uma base coerente. 

A parte interessante é que o autor, ao contrário de muitos enredos juvenis que empolgam as massas, transmite a sensação de que tem tudo no seu controlo. Se tiver, e se der as respostas necessárias nos próximos livros, então esta saga tem tudo para ser algo fantástico dentro do género juvenil. Claro que um leitor mais maduro pode não apreciar o cliché de termos a esperança da humanidade nuns adolescentes que tentarão tudo para parar uma invasão planeada há muito tempo e por seres tecnologicamente muito superiores. A questão, vendo deste prisma, pode parecer incoerente, mas o final poderá mudar a visão de qualquer leitor se for algo lógico. Por outro lado, esse leitor mais experiente, também terá de ter a noção que este é um livro juvenil e, como tal, o autor fixa-se nessas personagens adolescentes com as quais os jovens leitores se podem ligar.

O seu ritmo elevado e a sua escrita simples são trunfos que ajudam a agarrar o leitor. Este é um livro facilmente recomendando a qualquer jovem que goste do género ou que queira conhecer o género. É um livro que sofre por não dar todas as respostas, mas é também uma obra original e que pode ser o início de algo muito interessante. Sendo o primeiro livro, não me alongo nesta análise, mas estou curioso para ver como o autor vai terminar este enredo.

terça-feira, 17 de março de 2015

ADIVINHA QUEM SOU ESTA NOITE


Autor: Megan Maxwell

Título original: Adivina quién soy esta noche



Sinopse: Após o incidente provocado por uma ex-amante de Dylan, Yanira e ele celebram o seu ansiado casamento. A vida de recém-casados é uma contínua lua-de-mel. Ambos são duas feras do sexo e gostam do mórbido, das fantasias e de experimentar coisas novas. Juntos inventam um jogo chamado "Adivinha Quem Sou Esta Noite", repleto de luxúria, possessão e sensações, onde os limites são estabelecidos por eles.



Começando exatamente onde acaba o livro anterior, com um momento que levantava bastante dúvidas e com o qual a história poderia tomar um novo rumo, o livro agarra-nos de imediato, algo que me agradou. Todavia, aquilo que parecia ser um enorme impacto na história afinal não foi, o que me deixou a pensar sobre o que a autora quereria afinal fazer com tal acontecimento para além de agarrar os leitores a saltarem de imediato de um livro para o outro.

Tal como no primeiro livro, a autora continua o desenvolver das suas personagens com grande facilidade, sendo a sua escrita simples um dos grandes trunfos do livro para criar o ambiente certo. Yanira continua a ser o género de mulher que apareceu no primeiro livro, energética, decidida, e a sua personalidade ajuda ao desenvolver da história. No entanto, ao contrário do primeiro livro, este apresenta alguns momentos forçados com o objetivo de acelerar a história. Tal não danifica o livro, mas fiquei com a sensação que a autora poderia ter alcançado os seus objetivos sem dar a sensação que tudo estava a acontecer demasiado depressa (quem ler o livro perceberá o que digo).

Algo que facilmente se nota é que a autora amadureceu bastante do livro anterior para este. Não sei quanto tempo terá passado entre a escrita de cada um, mas a autora está mais madura e mais inteligente na forma como aborda o enredo, conseguindo focar-se no momentos mais importantes com relativa facilidade, levando a que o leitor não perca o ritmo. Mas, o que por vezes me afastou no livro foi o facto de a autora ter tornado bastante óbvio para mim com o livro iria acabar. Tal sensação será diferente para cada leitor, mas no meu entender a autora consegue terminar o primeiro livro com mais impacto do que este.

Com momentos divertidos e outros mais sentimentais, a autora encontra um bom equilíbrio, mas nunca consegue desmarcar o seu livro de outros do género, o que lamento, porque tinha a base para criar algo que surpreendesse com mais facilidade. É, inevitavelmente, um livro para o público feminino e consegue oferecer o que se pede, mas vindo desta autora, poderia ser ainda melhor, principalmente porque a autora já o conseguiu e aqui não consegue dar o salto que teve com outros, mesmo tendo como base uma história interessante.

Este par de livros é uma escolha interessante dentro do género. É divertido, sentimental, inteligente e suave. O seu ritmo elevado e as suas personagens cativantes são o seu trunfo, e se é isso que procuram, ou se são fãs da autora, então este livro será uma leitura viciante.

Luís Pinto

domingo, 15 de março de 2015

ÚLTIMOS RITOS


Autor: Hannah Kent

Título original: Burial rites



Sinopse: Na agreste paisagem islandesa, Hannah Kent traz à luz dos nossos dias a história de Agnes que, acusada do brutal assassínio do seu anterior amo, é enviada para uma quinta isolada enquanto aguarda a sua hora final. Apavorados com a perspetiva de virem a albergar uma assassina, a família que a acolhe evita Agnes nas primeiras abordagens. Apenas Tóti, um padre designado para acompanhar Agnes nesta última caminhada e ser o seu guardião espiritual, procura compreendê-la. Mas assim que a data da morte de Agnes se avizinha, a mulher e filhas do lavrador descobrem que há uma segunda versão para a história brutal que ouviram. Fascinante e lírica, "Últimos Ritos" evoca uma existência dramática num tempo e espaço distantes, dirigindo-nos a enigmática pergunta: como pode uma mulher suportar a mágoa e a injustiça quando a sua vida depende das histórias contadas pelos outros?



Existem livros que nos empolgam, que nos viciam. Existem outros que apresentam uma história que nos fascina, outros que nos mostram uma impressionante qualidade do início ao fim. Este livro de Hannah Kent tem um pouco de tudo isto, em diferentes fases, e no fim, é, simplesmente, bom!

Este é, inevitavelmente, um livro que se torna cada vez mais forte e pesado com o tempo, pois com o adensar da nossa aproximação com Agnes, também começamos a perceber a sua dor, a sua revolta, e o seu sentimento perante o inevitável. E a questão que se levanta até consumir toda a nossa mente é: estará Agnes inocente?

Numa escrita elegante e capaz de aprofundar as personagens (para não falar das fantásticas descrições de locais e ambiente), a autora aproxima-nos de Agnes, e só não o consegue ainda melhor porque a narrativa por vezes deixa de ter Agnes como personagem principal, dando-nos uma visão muito interessante do que e de quem a rodeia, mas perdendo-se por momentos a ligação com a personagem. Na minha opinião, prefiro assim, porque ao termos uma visão mais global, conseguimos perceber o "peso" que esta situação tem para a comunidade e para a família que acolheu Agnes.

Acima de tudo, este é um livro que nos leva a sentir o sabor da injustiça, porque no meu caso, enquanto li o enredo, acreditava que Agnes era inocente (pelo menos a personagem de ficção), e tal sentimento aproximou-me da personagem, agarrando-me à leitura mesmo sabendo como a história acaba. E é com essa aproximação que o livro começa a levantar questões e nós somos esmagados pela falta de respostas, porque estamos a lidar com algo definitivo, que é a morte de alguém e a pena de morte para Agnes. E no fim, questionamos o que sentiriamos se fossemos Agnes. Se soubessemos que iriamos ser executados, o que tentaríamos fazer? Que memórias queremos deixar? Como enfrentaremos tal situação se um dia nos aparecer à frente?

Talvez o único aspeto que me desagradou ligeiramente neste livro foi o facto de Agnes nunca mostrar um lado mais "mau". Agnes é uma persoangem boa, com boas intenções, e raramente senti que existisse algo de mau nesta personagem... algum ódio, talvez fosse esperado, ou revolta, mas Agnes é uma personagem boa. Tal levou-me a pensar que a personagem poderia estar a representar, mas durante a leitura deu-me a ideia que a autora pode ter exagerado ligeiramente na tentativa de nos aproximar. Tal não retira qualidade a este excelente livro, mas esperava uma personagem que tivesse as duas faces devido à situação. 

Todos nós, sem exceção, durante toda a História da humanidade, seremos recordados pelo que os outros vêem em nós. Mas, e se essas histórias forem falsas? E se apenas nós conhecermos a verdade? Quantos terão sido injustiçados desta forma? Onde está, afinal, a justiça de tudo o que nos rodeia?

Este livro é forte, é pesado, e deve ser lido com calma, questionando o que lemos, sentindo o que a personagem sente, e o resultado será uma viagem única. Esta obra é uma das mais agradáveis surpresas que tive nos últimos tempos e percebe-se o porquê de tantos prémios internacionais. Dificilmente a autora voltará a escrever um livro tão esmagador em alguns temas, mas fiquei curioso para ler os seus próximos trabalhos. Não esperem um romance agradável, não esperem um final feliz... esperem uma viagem ao interior de alguém que sabe o dia e a hora em que vai morrer. Profundo e perturbador. Vale a pena ser lido e qualquer leitor irá perceber o porquê de ser um livro com tantos prémios.

Luís Pinto

sexta-feira, 13 de março de 2015

AS CINQUENTA SOMBRAS LIVRE


Autor: E. J. James

Título original: Fifty shades Freed



Sinopse: Quando a jovem e inocente Anastasia Steele encontrou pela primeira vez o impetuoso e fascinante milionário Christian Grey, começou entre eles um affair sensual que lhes mudou a vida para sempre. Assustada e intrigada pelas singulares inclinações eróticas de Grey, Anastasia exige um compromisso total na relação. Com medo de a perder, ele aceita.
Agora Anastasia e Grey têm finalmente tudo o que desejavam - o amor, a paixão, a intimidade, uma riqueza incalculável - e todo um mundo de possibilidades à sua espera. Mas ela sabe que amá-lo não será fácil, e que estarem juntos vai implicar ultrapassar barreiras que nenhum deles poderia prever. Anastasia vai ter de aprender a partilhar o estilo de vida de Grey sem sacrificar a sua identidade. E ele terá de aprender a superar o seu obsessivo impulso de tudo controlar, enquanto se debate com os demónios do seu terrível passado.



Este é o final da trilogia que vendeu milhões e que moldou o próprio mercado literáro a nível mundial, com os leitores a aderirem ao género de forma impressionante. Quando acabei o primeiro livro percebia totalmente o porquê do hype, a razão de tanto sucesso e o quanto a sua fórmula básica tinha influênciado outros (não estou aqui a dizer que foi a autora a inventar esta fórmula, mas sim que a colocou no mapa).

No segundo livro fiquei com a sensação que a autora não teria toda a trilogia planeada e que algumas respostas teriam ficado para este livro, e a verdade é que algumas resposta são dadas, principalmente em relação à personalidade de Anastasia e Grey, todavia, algumas perguntas menos importnates ficaram sem resposta. 

Nota-se facilmente que a autora amadureceu com os livros. A sua escrita melhora, aprofunda temas de forma mais subtil, criando facilidade na leitura, e com isso o livro melhora alguns aspetos em relação aos anteriores livros. Por outro lado o livro perde no enredo por não ser tão objetivo e por ficar a sensação de que poderia ter o mesmo conteúdo em menos páginas.

Neste livro a autora tenta criar maior ação, deixando o livro de estar tanto virado para a parte erótica, e focando-se mais na parte psicológica das personagens agora que novos problemas aparecem. Gostei deste novo caminho, porque a autora poderia matar a trilogia se fosse sempre igual, e tal não acontece. O problema é que o livro acaba por perder um pouco da identidade do início da saga, o que agradará a alguns fãs, mas não à grande maioria. Tudo isto leva-nos a um final que tem umas partes óbvias, e outras que até me surpreenderam, mas no entanto, enquanto livros individuais, nenhum consegue bater o primeiro porque nenhum inova ou choca como o primeiro consegue. Tanto o segundo como o terceiro livro não conseguem oferecer ao género o impacto que o primeiro livro tem. Todavia, quem gostar do primeiro livro, irá gostar de toda a trilogia, independentemente de qual será o seu favorito. 

Quer se goste do género ou do estilo de escrita, quer não, a verdade é que esta trilogia vendeu muito. Sendo claramente um livro feminino, tem os ingredientes que muitas leitoras adoraram e ao ler este livros percebe-se onde está o segredo. Não são os meus livros favoritos no género, mas a questão é que muitos tentaram imitar, muitos até conseguiram criar livros mais interessantes ou com mais qualdiade dentro do seu género, mas nenhum teve este êxito, e tal demonstra como a autora usou bem a sua fórmula. Se gostam do género, esta trilogia, mesmo perdendo fulgor, deve ser lida.

Luís Pinto

quinta-feira, 12 de março de 2015

Passatempo: Pack Gordon Ramsay

 Passatempo

Pack Gordon Ramsay


O blog Ler y Criticar tem o prazer de vos trazer este pack que há muito tempo estávamos a tentar oferecer no blog e agradeço a todos os que tornaram possível esta oferta.

Será um exemplar de cada um destes dois livros, um único vencedor.

No entanto, as regras desta passtempo são ligeiramente diferentes:
Para participarem têm de ser fãs ou seguidores do blog.

Partilhar o passatempo na primeira vez que participam.

Podem participar todos os dias, uma vez por dia (hora de Portugal Continental)!

Quantas mais vezes participarem, mais hipóteses têm de ganhar.

O passatempo termina dia 29 de março


A todos, boa sorte!

quarta-feira, 11 de março de 2015

Passatempo: O Poço da Ascensão - Vencedor!


Passatempo

O Poço da Ascensão

Saga - Nascida nas Bruma - Livro II

Vencedor!



Chegou ao fim este passatempo em parceria com a editora Saída de Emergência, a quem agradeço a oportunidade de oferecer um exemplar de um dos livros que mais gostei de ler nos últimos tempos.

A todos os que participaram, obrigado e desejo-vos melhor sorte para a próxima.



E o vencedor é:

Vítor A. N. Lopes Silvério


Parabéns ao vencedor!

Aproveitem para participar nos outros passatempos abertos no blog!



terça-feira, 10 de março de 2015

VÍCIO INTRÍNSECO


Autor: Thomas Pynchon

Título original: Inherent vice



Sinopse: Em parte noir, em parte farsa psicadélica, protagonizado por Doc Sportello, detective privado, que de vez em quando se ergue de uma névoa de marijuana para assistir ao fim de uma era. Há já algum tempo que Doc Sportello não vê a ex-namorada. Mas um dia ela aparece com uma história acerca de um plano para raptar o milionário por quem por acaso se apaixonou. Esta ponta solta dos anos sessenta em Los Angeles é o mote para o livro, mas Doc sabe que o «amor» não passa de mais uma palavra que anda na moda, como trip ou «curte».


Este é, indiscutivelmente, um livro sobre a queda dos anos 60. Aqui, durante todo o livro, e de forma indireta, vemos o declínio de uma era, da mentalidade, da música, das lutas políticas, das drogas, das roupas e tudo o resto que tornou os anos 60 numa década que marcou a humanidade em muitos aspetos, tanto positivos como negativos.

E é na entrada dos anos 70 que este livro nos leva a ver a adaptação de alguns, a mudança da maioria e as memórias que ficaram, porque por mais que tentemos... a sociedade evolui, quer seja para o bem, ou para o mal. E depois, o que fica de uma era? Apenas as memórias das pessoas ou algo mais? Este livro de Pynchon tem tanto de negro como de comédia, misturado num argumento que encaixa perfeitamente com a sua época, parecendo por vezes surreal, como se o próprio enredo estivesse com os efeitos que o personagem viciado apresenta.

E é nessa névoa que o enredo nos vai divertir, enquanto percebemos com facilidade o que esta década nos deu de bom, ou que nos deu de mau e o quanto houve em excessos. Pelo meio, um enredo inteligente por conseguir oferecer o que pretende, quer seja ou não do gosto do leitor. Para tal, usa Sportello, um personagem que nos cativa e que identificamos como aquele homem que ficou na época passada, não indo atrás das mudanças que a sociedade decidiu, ficando sozinho e não conseguindo encaixar no que o rodeia.

Para se gostar deste livro temos de o aceitar pelo que é: uma história cómica envolta no fim de uma era e no início de outra, misturada com um suave romance, uma escrita objetiva e inteligente, e algum momentos que nem parecem fazer sentido. No entanto, no fim, percebemos que fazem, porque é esse o objetivo do autor. Se gostam dos anos 60 este será um livro indicado, principalmente porque o ambiente que o autor criou está muito bem conseguido, com uma escrita suave, diálogos inteligentes e um enredo cativante. A mim demorou a convencer-me, talvez porque não vivi nesta década, mas conseguiu ser uma leitura divertida e que certamente agradará a muitos, principalmente aos fãs do autor. Percebe-se o porquê de ter sido tão aclamado pela crítica, principalmente pela mistura de thriller e comédia que conegue oferecer.

Luís Pinto

segunda-feira, 9 de março de 2015

UM CASO PERDIDO


Autor: Colleen Hoover

Título original: Hopeless



Sinopse: Preferia saber a verdade, ainda que isso fizesse de si um caso perdido, ou continuar a viver uma mentira?
Quando Sky conhece Dean Holder no liceu, um rapaz com uma reputação tão duvidosa quanto a dela, sente-se aterrorizada, mas também cativada. Há algo naquela figura que lhe traz memórias do seu passado mais profundo e perturbador. Um passado que ela tentou por tudo enterrar dentro da sua mente.
Ainda que Sky esteja determinada a afastar-se de Holder, a perseguição cerrada que ele lhe dedica, bem como o seu sorriso enigmático, fazem-na baixar as defesas, e a intensidade da relação entre os dois cresce a cada dia. Mas o misterioso Holder também guarda os seus segredos, e, quando os revela a Sky, ela vê-se confrontada com uma verdade tão terrível que pode mudá-la para sempre. Será Sky quem ela pensa que é? E será que os dois conseguirão sarar as suas feridas emocionais e encontrar um modo de viver e amar sem limites?



Este livro foi uma agradável surpresa, sendo um dos livros mais surpreendentes para jovens adultos que li nos últimos tempos. É verdade que no início decidi ler este livro porque me foi recomendado, mesmo tendo em conta que a sinopse não me tinha convencido totalmente. Mas, como não podemos julgar um livro pela sinopse e como as recomendações tinham sido muito boas, decidi ler esta obra que durante todas as suas páginas apresenta um toque juvenil, sem ser muito carregado, tornando-se num livro que qualquer adulto poderá ler sem sentir que está perante algo mais juvenil. 

Na minha opinião, o grande trunfo que esta autora apresenta deste o primeiro momento é uma narrativa suave, rápida e que não se perde. A história desenrola-se com grande facilidade, sem saltos que não se percebam ou momentos em que não se note que a personagem ou o enredo está a evoluir. 

Sendo um romance bastante focado nas duas personagens principais, a exploração psicológica das mesmas está bem conseguida, com as revelações a aparecerem nos momentos certos, muitas vezes de forma surpreendente, mantendo o ritmo da leitura sempre elevado. No meu caso, as duas personagens demoraram a conquistar-me, mas desde o início que se percebe que existe algo de errado com ambas, tal como a sinopse assim o indica. Com isto, e com várias pistas à mistura, torna-se fácil ir especulando sobre alguns segredos, e se uns foram mais óbvios, outros são uma verdadeira surpresa, proporcionando bons momentos na leitura.

Mas claro que o final é o ponto alto, com a autora a correr alguns riscos mas a conseguir um final que surpreende e que é coeso, não existindo a sensação de forçar algum acontecimento. Para a qualidade do livro, muito se destaca Dean, sendo uma personagem realmente bem criada dentro do contexto, tornando-se, de forma indireta, na base do enredo mesmo que tal não se note verdadeiramente. 

Este é um livro que arrisca. Tenta enganar o leitor, tenta surpreender, e consegue. Em alguns momentos poderia ser mais adulto, mas noutros atinge a maturidade e deixa-nos a sua marca na nossa memória com momentos que não se esquecem facilmente, quer seja por surpresa, choque ou sentimento. Dentro do seu género, foi uma agradável surpresa que recomendo a todos. Se gostarem do género e se gostarem de duas personagens diferentes do normal, apenas me resta recomendar este livro, tal como tantas pessoas mo recomendaram a mim.

Luís Pinto

quinta-feira, 5 de março de 2015

NO LIMIAR DA ETERNIDADE


Autor: Ken Follett

Título original: Edge of Eternity




Sinopse: Enquanto as decisões tomadas nos corredores do poder ameaçam extremar os antagonismos e originar uma guerra nuclear, as cinco famílias de diferentes nacionalidades que têm estado no centro desta trilogia O Século voltam a entrecruzar-se numa inesquecível narrativa de paixões e conflitos durante a Guerra Fria.
Quando Rebecca Hoffmann, uma professora que vive na Alemanha de Leste, descobre que anda a ser seguida pela polícia secreta, conclui que toda a sua vida é uma mentira. O seu irmão mais novo, Walli, entretanto, anseia por conseguir transpor o Muro de Berlim e ir para Londres, uma cidade onde uma nova vaga de bandas musicais está a contagiar as novas gerações. Nos Estados Unidos, Georges Jakes, um jovem advogado da administração Kennedy, é um ativo defensor do movimento dos Direitos Civis, tal como a jovem por quem está apaixonado, Verena, que colabora com Martin Luther King. Juntos partem de Washington num autocarro em direção ao Sul, numa arriscada viagem de protesto contra a discriminação racial. Na Rússia, a ativista Tania Dvornik escapa milagrosamente à prisão por distribuir um jornal ilegal. Enquanto estas arriscadas ações decorrem, o irmão, Dimka Dvornik, torna-se uma figura em ascensão no seio do Partido Comunista, no Kremlin.


Apesar de não ter lido os dois anteriores livros, quando me ofereceram esta obra de Follett tive de o ler. A verdade é que, obviamente, a minha leitura teria ganho se tivesse lido os dois anteriores, mas mesmo assim a leitura foi muito boa, sendo fundamental a forma como o autor nos explica, indiretamente, alguns pormenores dos livros anteriores, e também o facto de existir sempre um salto temporal entre cada livro, sendo as personagens novas a cada livro, não existindo uma ligação total.

Decidi colocar aqui a totalidade da grande sinopse deste livro, porque ela demonstra muito bem o que ele nos oferece. Tal como a sinopse, também o livro é bastante grande mas vale a pena ser lido porque a forma como o autor explora meia dúzia de histórias tão diferentes para mostrar acontecimentos tão diferentes, mas ligados, do século passado, leva-nos a uma leitura extremamente completa, ficando no final uma sensação de plenitude em relação a alguns temas que inevitavelmente se ligam.

O que gostei mais foi a mistura de histórias que este livro oferece, tendo todas como pano de fundo a Guerra Fria e explorando os grande movimentos e acontecimentos dessa época. O resultado final é um enredo de ficção que ajuda a mostrar a história da humanidade durante aquela época. E assim, o livro não é apenas ficção, mas também uma excelente obra capaz de ensinar quem queira saber um pouco mais sobre esta época.

Claro que sendo a Guerra Fria uma das épocas que mais gosto de ler, apreciei bastante esta obra, não só por aprofundar o tema da espionagem e crise política, passando pela manipulação social e tentativas de recrutamentos dos vários serviços secretos, mas também pela propaganda do Kremlin, aqui bem descrita e que torna a história mais objetiva em relação a algumas personagens. Por outro lado, o autor também explora as lutas pelos direitos humanos entre as várias raças, e se em alguns momentos parecia que o autor estava a colocar demasiada informação num só livro, o resultado final é mesmo muito bom.

O único "defeito" que podemos apontar a este livro é o seu ritmo. Follett faz um trabalho exaustivo ao explorar alguns temas, diminuindo o ritmo durante grande parte da narrativa. Este não é um livro para lermos sempre parar, mas sim para absorvermos de forma quase estudiosa enquanto vemos o desenrolar da vida destes personagens que, ao serem tão diferentes, com passados e ideologias distintas, encaixam muito bem no livro, proporcionando bons momentos que não esquecemos.

Este enorme livro em tamanho é uma leitura lenta mas de grande qualidade. Gostei bastante do tema, como foi exposta e como o livro parece coeso e global em relação ao que foi importante nesta época. As personagens cativam e, apesar de não me identificar com todas, Follett volta a demonstrar que cria excelentes personagens. Totalmente convencido a ler os dois anteriores livros, para saber mais sobre as famílias destas personagens noutros momentos do século, resta-me apenas recomendar o livro a quem goste do tema e para quem uma leitura mais lenta não seja problema desde que haja qualidade. Muito bom.

Luís Pinto

quarta-feira, 4 de março de 2015

Passatempo: John e George


PASSATEMPO

John e George
O cão que mudou a minha vida


O blog Ler y Criticar em parceria com a Editorial Presença dão-vos a oportunidade e ganharem um exemplar deste livro bestseller: John e George.

Para se habilitarem a ganhar, basta responderem a uma pergunta e preencherem o formulário. Apenas é permitida uma participação por pessoa.

O passatempo termina dia 15 de março


Sinopse: Esta é a incrível história de vida de John Dolan, um famoso artista de rua londrino que deve a sua felicidade à profunda amizade que o une a George, um bull terrier muito especial que o salvou de uma existência sem sentido e profundamente autodestrutiva. Durante muitos anos, John conheceu um quotidiano duro e completamente desprovido de esperança, chegando mesmo a viver nas ruas como sem-abrigo, até ao dia em que lhe pediram para ficar com George. Este seria o ponto de viragem na sua vida. John recuperou um talento há muito esquecido, o desenho, e é hoje um dos artistas de rua mais conceituados de Londres.


Boa sorte a todos!

segunda-feira, 2 de março de 2015

AS CINQUENTA SOMBRAS MAIS NEGRAS


Autor: E. L. James

Título original: Fifty shades darker




Sinopse: Perseguida pelos negros segredos que atormentam Christian Grey, Anastasia Steele separa-se dele, e começa uma carreira numa prestigiada editora de Seattle.
Mas por mais que tente, Anastasia não o consegue esquecer - ele continua a dominar-lhe todos os pensamentos. E quando Christian lhe propõe reatarem a relação com um novo e diferente acordo, ela não consegue resistir. Aos poucos, uma a uma, começam a revelar-se as Cinquenta Sombras que torturam o seu autoritário e dominador amante.
Enquanto Grey se debate com os seus demónios, e revela a Anastasia um lado inesperadamente romântico, ela vê-se obrigada a tomar a mais importante decisão da sua vida.
Uma escolha que só ela pode fazer…



Após um primeiro livro onde claramente se percebe o porquê do hype à volta desta trilogia, decidi continuar com a saga e ler o segundo livro, tentando perceber até que ponto a autora teria tudo programado desde o início ou se estava apenas a prolongar um êxito inesperado.

Após ter lido o segundo livro, acredito que a autora tinha algumas coisas preparadas, mas não tudo, e alguns momentos deste enredo parecem demasiado forçados, levando-me a acreditar que a autora está a deixar muito para ser revelado no último livro. 

Em primeiro lugar, o livro mantém a sua fórmula e apresenta um ritmo mais elevado. É notório que a autora tenta continuar a desenvolver as suas personagens, mas também é verdade que aqui nota-se, ao contrário do primeiro livro, que haverá uma continuação... e o resultado é que algumas perguntas ficam no ar, não só em termos de enredo, mas principalmente em relação às personagens. Pelo meio algumas personagens novas, mas a narrativa continua focada em Anastasia que, apesar de tudo, não se desenvolve nem revela tanto quanto Grey.

Em termos de tensão erótica que deu a esta saga o hype que todos conhecemos, ela continua a existir, mas não é fácil surpreender o leitor depois o primeiro livro, e o resultado final são alguns momentos interessantes e outros que parecem forçados para serem diferentes. Claro que parece forçado porque algumas coisas ficam por explicar, sendo grande a responsabilidade do último livro para explicar e melhorar toda a trilogia. O ponto alto do livro está na sensação de química que este oferece. Nota-se que as personagens estão bem entrosadas dentro do estranho romance que a autora quer criar, e consegue-o, mesmo que seja notório que alguns diálogos não têm a qualidade nem o significado que poderiam ter, ficando a sensação que o livro poderia ser mais pequeno sem perder qualidade.

Tal como é normal quando analiso trilogias, também aqui irei deixar a opinião mais aprofundada para o fim. Contudo, é preciso dizer que a autora sabe quais são os pontos vencedores da sua trilogia e usa-os bem, quer isso ajude ou não à própria qualidade do livro. No entanto, este livro parece uma transição para o último, e mesmo em alguns aspetos sendo melhor do que o livro anterior (nota-se que a autora está mais madura e experiente), não consegue surpreender tanto quanto o primeiro. Mas claro, está aqui tudo o que fez esta saga tão famosa, e aqueles que adoraram o primeiro livro, também gostarão deste, mesmo que não seja o preferido da grande maioria. 

Luís Pinto