sexta-feira, 8 de maio de 2015

O ESPIÃO PORTUGUÊS


Autor: Nuno Nepomuceno





Sinopse: E se toda a sua vida, tudo aquilo em que acredita, não passar de uma mentira?
O que faria?
Quando André Marques-Smith, o jovem director do Gabinete de Informação e Imprensa do Ministério dos Negócios Estrangeiros português é enviado à capital sueca, está longe de imaginar que aquele será um ponto de viragem na sua vida.
Ao serviço da Cadmo, a agência de espionagem semigovernamental para a qual secretamente trabalha, recupera a primeira parte de um grupo de documentos pertencentes a um cientista russo já falecido. Mas quando regressa a Portugal, tudo muda. Uma nova força obteve a segunda parte do projecto e, de uma forma violenta e aterrorizadora, resolveu mostrar ao mundo que está na corrida pelos estudos do cientista.


Dentro da espionagem os livros encontram-se sempre numa balança de tipo. Por um lado temos os enredos de espionagem clássica e realista, quase sem ação, onde o jogo é feito nos bastidores. No outro lado temos os típicos livros de espionagem de ação, ao estilo James Bond, onde tiros, perseguições, carros desportivos e mulheres sensuais estão presentes e empurram a leitura num ritmo elevado. Neste Espião Português o autor tenta criar o meio termo, proporcionando uma leitura rápida que não está apenas sustentada em ação.

O que facilmente se nota neste livro é a evolução do autor dentro do mesmo. Nuno Nepomuceno evolui a sua narrativa, e se no início achei que o autor não estava, com a sua escrita, a aproveitar o que o enredo podia oferecer, quando cheguei ao fim fiquei com a noção que o autor já tem a base necessária para criar um próximo livro bastante melhor em alguns aspetos. Com uma escrita muito particular, o autor tenta que o ritmo nunca baixe, e a verdade é que retirando alguns momentos mais lentos, o ritmo é sempre elevado, levando a que o leitor continue a ler e, se possível, sem ter tempo para questionar muito. 

E é com esse ritmo que me apercebi que este não é um livro de espionagem puro, mas sim um livro de ação e suspense passado num ambiente de espionagem. Esta diferença é importante porque nota-se que o autor domina mais a ação no enredo do que a espionagem em si. A esta tendência alia-se o contexto familiar, onde o autor consegue criar laços entre o personagem, André, e o leitor. É nestes momentos, calmos e familiares, que nos ligamos ao personagem principal ao ver os seus medos, os seus traumas e os seus sonhos. É fácil gostar de André tal como é fácil perceber que muito não está a ser contado.

Em termos de revelações o livro nunca me surpreendeu, quer nos momentos de revelações pessoais ou profissionais, o autor nunca me surpreendeu e acredito que não fosse seu objetivo que a surpresa fosse o alicerce do livro, pois todas as pistas estão lá, e devido ao ritmo elevado, consegui notar quando o autor escreve algo que no início parece estar a mais, mas não está. É uma pista. O curioso, e que enaltece o livro, é que o facto de nunca me ter surpreendido não retira qualidade ao livro, apenas confirma as suspeitas de um leitor que não quer parar de ler, e com isto ganhamos uma noção mais abrangente do enredo do que o próprio personagem principal.

As personagens, diversificadas e bem criadas são um ponto forte, e o pequeno universo já criado é coeso em muitos aspetos, o que é de enaltecer tendo em conta que se trata do primeiro livro de uma trilogia de ritmo elevado. No entanto, o livro, tal como a maioria dos livros de espionagem, apresenta falhas porque é vítima do seu próprio ritmo. Por vezes o autor não para para explicar os vários contornos de um acontecimento, o que retira coesão ao enredo mas que cria perguntas para os próximos livros, pois ficam várias questões por responder.

Globalmente este é um livro viciante e que tem um toque agradável por ser passado em Portugal, com personagens portugueses. Não é um grande livro de espionagem, nem o tenta ser, mas consegue ser um bom livro de ação onde a vida pessoal do personagem também é explorada de forma agradável e viciante. Um bom ritmo, uma história interessante, muita ação e personagens que facilmente agradam. Por ser apenas o primeiro livro, não responde a tudo, o que me deixa ansiosamente à espera para ver o que o autor fará de seguida. Esperemos que as editoras portuguesas continuem a apostar nos nossos escritores.

Luís Pinto

6 comentários:

  1. Li este livro a semana passada e finalmente alguém uma opinião verdadeiramente acertada em relação a esta obra. Viciante e com ação mas várias perguntas sem resposta. Vou ficar à espera da tua opinião ao segundo.

    Abraço,
    Cardoso

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  2. Fiquei com vontade de ler. Parabéns pela análise e espero que o autor tenha sucesso.

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  3. Olá, Luís. Novamente, parabéns pelo texto, sempre bons, sempre objetivos. Em relação a este livro, está na área que mais gosto entre a espionagem pura e lenta e a acção frenética. Se dizes que está no meio termo então vou gostar. Obrigado pela sugestão pois é raro vermos autores tugas neste género.

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  4. Já me tinha questionado se iria ler este livro porque gostas muito de espionagem a ver pelo que tens escrito no blogue. Agora fiquei com bastante vontade de ler o livro e devo traze-lo para casa na feira do livro. Fico à espera da opinião ao próximo. Parabéns pela crítica.

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  5. Bom dia Luís. Uma vez mais e como em todos os textos que escreve, parabéns pela análise sem revelações. Li este livro há umas semanas, penso que por volta de Fevereiro, um livro oferecido e que gostei. As falhas que indica haver também as notei e tive pena, pois acho que o autor não ponderou todas as ações e efeitos colaterais do que acontece no livro, mas concordo plenamente consigo: é um livro de ação com toques de espionagem. Parabéns a si, por analisar livros como ninguém e ao autor pelo sucesso que tem num mundo editorial muito complicado.

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  6. Parece-me um livro interessante. Não estava muito virado para o comprar mas as tuas opiniões quase sempre acertam com o meu gosto e enquadra-se no género que gosto. Será curioso ver se o autor continua a evolução que falas e se responde a alguma perguntas. Parabéns pela crítica, sempre de outro nível e também espero que as editoras continuem a postar em escritores tugas. E para quando um livro saído do autor deste grande blogue?

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