sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Passatempo "ACÁCIA - Ventos do Norte"

O Blog Ler y Criticar em parceria com a editora Saída de Emergência dão-te a oportunidade de ganhares o primeiro livro de uma das sagas mais esperadas do ano!

Os 2 Vencedores receberão um Livro e ainda um Mousepad (tapete de rato) com um tema alusivo à saga!

Para te habilitares a ganhar basta leres a amostra do livro que disponibilizamos neste link e responder correctamente às nossas cinco perguntas.




Para evitar qualquer tipo de roubo de respostas ou erros a submeter as mesmas, pedimos que as enviem para o nosso mail: lerycriticar@gmail.com com as respostas devidamente numeradas, nome e morada. Boa sorte e boas leituras!


PERGUNTAS:

1- O assassino saiu pela porta principal de que Fortaleza?

2- O assassino desviou-se da estrada principal para evitar o quê?

3- Para completar o seu disfarce, o que fez o assassino ao seu cabelo?

4- Maeander é chefe de que guarda de elite?

5- Quem se senta sempre atrás dos irmãos para superar o tédio da lição da manhã?



Condições do passatempo:
O Passatempo termina às 23:59 de 7 de Outubro.
A Editora Saída de Emergência sorteará os dois vencedores entre os participantes com as 5 respostas correctas
O envio dos exemplares é da responsabilidade da editora (correio registado)
Em caso da improvável ruptura de stock os vencedores deverão escolher outro livro do catálogo da editora
Só serão aceites participações de Portugal (continente e ilhas)
Só será aceite uma participação por pessoa!
A Editora não se responsabiliza por extravio dos CTT, moradas incorrectas ou envios não reclamados.

BOA SORTE E OBRIGADO PELA VOSSA PARTICIPAÇÃO!

Aproveito ainda para explicar que também o site Estante de Livros está a promover o mesmo passatempo. No entanto os sorteios serão independentes, como tal podem participar nos dois e se o fizerem têm mais hipóteses de ganhar!




quinta-feira, 29 de setembro de 2011

O MAR DE FERRO

Autor: George R. R. Martin        

Título original: A Feast for Crows


Este foi o oitavo livro que li desta saga e a consequente oitava vénia que faço ao seu criador. Martin consegue de for sublime preocupar-me com as suas personagens, que na realidade não são mais do que palavras numa folha, palavras saídas da mente deste homem, mas quanto mais lê-mos, mais elas se tornam reais. Um verdadeiro dom.
Tal como no livro anterior, este apresenta um ritmo mais baixo do que outros da saga, mas podendo não ser um livro tão entusiasmante, não é menos envolvente. Agora a guerra “parece” perto do fim e novas alianças são feitas enquanto novas ameaças surgem sem que lhes seja dado grande importância. No entanto, este jogo de bastidores, de interesses e traições é um dos grandes trunfos de Martin em toda a saga, o verdadeiro Game of Thrones.
 Com este livro a mostrar apenas as personagens a Sul, o livro acaba por se focar principalmente em apenas 3 ou 4 personagens, mas as suas acções conseguem transmitir uma ideia muito mais alargada do que se passa em todo este mundo criado por Martin. Este mesmo factor de algum foco em poucas personagens dão-nos um maior conhecimento sobre elas, e nós pensamos “que surpresas poderão vir daqui?” pois… uma vez mais Martin surpreende, e admito que houve um momento em que se pudesse tinha entrado no livro para alterar as acções, e isto tudo porque uma vez mais Martin não tem piedade, é simplesmente cruel pelo realismo que dá à sua história. Qualquer um pode morrer na vida real, porque não num livro? E isso acontece como um balde de água fria para o leitor.
Estas surpresas ajudam a suavizar a revolta deste livro ser lento, mas também a vincar a outra sensação, de que este livro terá o seu valor aumentado no fim da saga. Este livro teve em mim a mesma sensação que teve Harry Potter e a Ordem da Fénix. Era um livro bom, mas estava ali no meio da saga e pouco desenvolvia, era mais o que consolidava, e eu queria mais. Agora com Martin também queria mais, mas talvez precise dos livros finais para conseguir enaltecer este. Afinal de contas, este travão no ritmo acontece em quase todas as longas sagas. A diferença está em saber se Martin conseguirá voltar a aumentar o ritmo e acabar em grande ou não. Eu pessoalmente acredito que Martin em A Dança dos Dragões irá voltar ao que nos habituou, pelo menos teve mais que tempo para o fazer. É com grande expectativa que conto os dias para começar o próximo livro.
Falta no entanto um grande fim a este livro, uma vez mais o problema de ser um livro a meio da saga, um fim que empolgue. O que empolga são as personagens, incrivelmente bem criadas e cheias de coerência. Eu pessoalmente adorei muito mais estes capítulos de Cersei do que todos os outros dos anteriores livros, onde a Rainha era o centro do capítulo, e claro que Jaime continua a ser aquela personagem que se mantém no mais elevado patamar de qualidade. Começo a acreditar que Martin nunca desiludirá na qualidade das personagens que cria. Uma pequena nota ainda para a nova personagem Doran Martell que achei fenomenal.  
Falta no entanto ainda dizer que Martin continua a mostrar um enorme trabalho de montagem para tornar este mundo coerente. Conseguir manipular as acções de tantas personagens, quer as que estão vivas, quer as histórias do que estão mortos há muito tempo, é um trabalho arriscado e árduo. Neste caso só temos de louvar, pois está continuamente bem feito.
Nos três primeiros livros (seis da versão portuguesa) Martin pegou nas suas peças de xadrez, apresentou-as, aproximou-as do leitor e movimentou-as, chegando a um poderoso ataque no fim do nosso 6º livro já com várias peças mortas. A seguir Martin recua as peças com que atacou, apresenta novas peças, cria alianças e prepara-se para voltar ao ataque depois de ter parado para pensar numa nova forma de surpreender o leitor do outro lado do tabuleiro. Pelo menos é o que todos esperamos.   
Resumindo, este livro mantém o ritmo mais lento, a própria escrita de Martin não parece tão boa, tão forte, mas também devido a acontecimentos menos marcantes. No entanto é um livro está a um nível muito alto dentro do seu género. Viciante, bem construído, Martin continua a avançar para a imortalidade da Fantasia como um dos melhores de sempre. Venha o próximo!

terça-feira, 27 de setembro de 2011

POR FAVOR NÃO MATEM A COTOVIA

Autor: Harper Lee          

Título original: To kill a Mockingbird


Durante os anos da Depressão, Atticus Finch, um advogado viúvo de Maycomb, uma pequena cidade do sul dos Estados Unidos, recebe a dura tarefa de defender um homem negro injustamente acusado de violar uma jovem branca. Através do olhar curioso e rebelde de uma criança, Harper Lee descreve-nos o dia-a-dia de uma comunidade conservadora onde o preconceito e o racismo caracterizam as relações humanas, revelando-nos, ao mesmo tempo, o processo de crescimento, aprendizagem e descoberta do mundo típicos da infância. Recentemente, alguns dos mais importantes livreiros norte-americanos atribuíram grande destaque ao livro, ao elegerem-no como o melhor romance do século XX.

Livro publicado em 1960, este foi o livro que deu a Harper Lee o Prémio Pulitzer e provocou a sua fama.
Numa escrita brilhante, capaz de cativar, de nos ensinar e nos aproximarmos das personagens, Harper Lee leva-nos até uma pequena cidade dos Estados Unidos da América onde uma criança nos narra um dos melhores livros que já li. Agora, o que torna este livro especial?
Para começar devo dizer que este livro é sublime não pela sua história em si, mas pela forma como nos é dada. A nossa narradora, Scout, é a filha de Atticus e a forma como este livro nos faz saltar entre ver o mundo pelos olhos de uma criança e de um adulto é sublime. Aliás, devo dizer que poucos escritores conseguiram “entrar” na mente de uma criança e recriar as suas acções e pensamentos, de forma tão exemplar e nesse aspecto em nada fica atrás de “O Principezinho” ou "O Deus das Moscas".
Numa civilização simples, modesta, a mente da nossa narradora encaixa de forma perfeita, simples, tal como a mente de uma criança normal. Esta visão simplificada e inocente faz com que o livro não ataque a moralidade da população, mas questiona-a e deseja libertar-se daquele preconceito, criando pensamentos básicos que deveriam ser a base da nossa própria civilização. Quando Scout nos diz que para ela não existem vários tipos de pessoas, mas apenas pessoas (num pensamento sobre o racismo), nós leitores quase que sorrimos com a bofetada que a criança dá aos supostos pensamentos superiores e arrogantes dos adultos que a rodeiam.
Numa história bem estruturada, a grande personagem é Atticus, sinceramente uma das melhores que já li, com a sua calma, inteligência e desprovido de preconceitos, este é o homem que tentará lutar contra esse racismo ideológico que destrói qualquer barreira lógica durante todo o livro. Ele é quem tenta aniquilar esse “monstro” que se alimenta das mentes obtusas de algumas pessoas que não conseguem ver o evidente apenas porque na balança está um branco contra um negro. Isso leva à revolta do próprio leitor que percebe estarmos perante uma história que certamente muitas vezes se repetiu na realidade, o que torna este livro ainda melhor e mais envolvente.
O final do livro é excelente e leva-nos a um momento onde Scout tenta ver o mundo pelos olhos de outra personagem, e o que vê é tristeza, um mundo que ela não deseja na plenitude, apesar de sentir que ao fundo, bem escondido, existe bondade.
Sendo um dos melhores livros que já li, a personagem Atticus junta-se a um grupo distinto de personagens que se tornam imortais pela sua decência e coragem. Atticus consegue ainda partilhar a grande maioria das capacidades da autora Harper Lee, quer a olhar para o mundo, quer para perceber a mente das crianças. Talvez falte ao mundo dos adultos aquilo que Atticus tem, a capacidade de respirar alguma da inocência das crianças, de respeitar essa inocência e de a identificar quando o preconceito dos adultos nos cega.
Um livro obrigatório!

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

A ÚLTIMA CARTADA

Autor: Ben Mezrich    

Título original: Bringing Down the House


Para todos aqueles que não conheçam, este livro retrata a história verídica de um grupo de alunos do M.I.T. que nos anos 80 conseguiu ganhar milhões de dólares aos casinos de Las Vegas. Usando a sua genialidade, enorme capacidade matemática e conhecimento das estratégias avançadas do Blackjack, este grupo de "banais" adolescentes conquista aquilo que os outros fantasiam ao conseguirem simplesmente contar cartas e consequentemente antever quais as possíveis cartas a sair e sua probabilidade.
Primeiro de tudo devo dizer que se viram o filme, uma vez mais trata-se de uma adaptação que pouco tem de similar com o livro. A base é a mesma, mas as personagens, a história e tudo o resto, são diferentes. Como tal este livro eleva-se a uma patamar superior ao do filme que tem como objectivo entreter. O livro por seu lado mostra-se como um bom thriller, fácil de ler, rápido (é um livro que qualquer pessoa lê numa semana, para alguns será apenas dois ou três dias) e que nos deixa de boca aberta ao estarmos perante uma história verdadeira.
No entanto devo confessar que a escrita de Bem Mezrich não me cativou, achei-a por vezes estranha, com tentativas de humor sem resultado e por vezes sem a capacidade de aprofundar uma ou outra personagem.
Mas este não é um livro para ser profundo, nem para nos identificarmos com a personalidade das personagens. Este é um livro para termos o conhecimento da história, do que realmente aconteceu, e vermos como um grupo de aluno, por vezes quase rejeitados por outros da mesma idade, consegue alcançar uma vida e um feito que outros apenas sonham. Aquilo que o dinheiro permite, a adrenalina de o conseguir, os riscos e acima de tudo, aquilo que o dinheiro traz. Os interesses, as oportunidades, as traições. 
A capacidade de vida dupla que a personagem principal é obrigada a adquirir está bem documentada e é um ponto que nos agarra ao livro, pois queremos saber até quando conseguirá viver daquela forma. A "luta interna" de um rapaz com princípios morais mas que sente o sabor doce do dinheiro e a oportunidade rara que tem pela frente.
Como disse antes o filme é muito diferente. Serve para entreter e agarra-se à fórmula de Hollywood para o fazer. Se o filme fosse uma adaptação imaculada deste livro, não conseguiria entreter da mesma forma. O livro por seu lado produz um efeito final mais satisfatório por percebermos que lemos algo verdadeiro, a vida daqueles adolescentes, as suas reviravoltas, os seus medos e ambições, e isso agarrou-me ao livro, principalmente porque há sempre uma dose de adrenalina em cada acção das personagens deste livro.
Quem se interessar por histórias verídicas, casinos, ou simplesmente pela matemática, este é um livro que não sendo nem de perto genial, tem a capacidade de nos entreter e nos viciar. Uma leitura fácil e que não sendo uma obra-prima conseguiu cumprir o objectivo de me agradar sem grande esforço, e que fará o mesmo a todos os que gostem de matemática, jogos, probabilidades, e talvez também agrade a todos os que quiserem saber como um grupo de miúdos conseguiu “destruir” um dos sistemas mais seguros do mundo, o mundo onde os casinos vencem sempre enquanto jogarmos pelas suas “regras”.

No entanto há muitas perguntas que ficam no ar, muitas acções que ficam por explicar, muitos momentos em que perguntamos “então mas como conseguiram eles fazer isto?”, e tais factos que não são explicados poderão afastar alguns leitores que talvez comecem a questionar o que não foi explicado no livro. Eu pessoalmente não o fiz, limitei-me a ler e a imaginar que atitudes teria se fosse eu o génio do M.I.T., ou até que ponto o dinheiro pode mudar uma pessoa.

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

O FESTIM DOS CORVOS

Autor: George R. R. Martin      

Título original: A Feast for Crows

Primeiro tivemos um Rei, depois tivemos cinco. Agora tudo o que vejo são corvos, em disputa pelo cadáver de Westeros.
Esta frase representa para mim um pouco este livro. Depois dos incríveis acontecimentos de “A Glória dos Traidores”, percebia-se que esta saga teria de abrandar, visto que ainda falta muito para acabar esta história épica de George Martin. Aliás, já me tinham avisado que tal aconteceria. Mas que fique bem claro, este livro está longe de ser mau.
Tal como na frase que copiei do livro para iniciar a minha opinião, esta história é o rescaldo de todos os frenéticos acontecimentos de antes, e agora Martin “arruma a casa”, introduzindo novas personagens, aumentando a área visível do seu mundo, acrescentando culturas e mentalidades novas, ajudando o seu mundo a crescer. Este é um ponto muito positivo destas páginas, pois os nossos olhos irão incidir em locais que até agora apenas tínhamos ouvido, e que agora nos são dados, tal como as suas famosas personagens que ouvimos falar em livros anteriores.
Sendo um rescaldo, com introduções e um ambiente que serve para mostrar como as “peças do tabuleiro” se movimentam agora que tanto mudou, é normal que algumas pessoas possam achar este livro com pouca qualidade em relação aos anteriores. Mas reparem num facto: apenas a “qualidade dos acontecimentos” diminuiu. Tudo o resto mantém-se. A qualidade dos diálogos, a qualidade do mundo, a qualidade das personagens, a qualidade da intriga, dos jogos de poder. Continua tudo tão bom como sempre foi. Apenas os acontecimentos não nos deixam de boca aberta como nos livros anteriores.
Outro aspecto que poderá desiludir alguns é o facto de este livro e o próximo (livros sete e oito da edição portuguesa) terem apenas as personagens que se encontram a Sul, deixando as restantes personagens para o livro “A Dança dos Dragões” e “Os Reinos do Caos”. Sinceramente achei ao início que tal separação seria prejudicial, (porque poderia faltar um bom encaixe com os livros seguintes) mas agora olho-a de forma diferente. Eu lermos estas páginas, vamos sabendo, de forma muito suave o que se passa com algumas personagens do Norte, e será certamente interessante ler os próximos livros, tentando ver como Martin irá encaixar a surpresa em acontecimentos que nós sabemos à partida como irão acabar. Ou estará Martin a obrigar-nos a olhar para um lado não vendo o que é importante? Saberei quando os ler.
Neste livro aparece-nos a frase “A História morta escreve-se com tinta, a espécie viva com sangue”. A verdade é que Martin já derramou o sangue de muitas personagens, quase sempre de forma surpreendente, mas neste livro a guerra não se trava com espadas, mas sim com olhares, com palavras, com cartas, com os nomes da família, com favores e consequentes dívidas, tudo serve para vencer. Este é um livro de movimentações de bastidores e estou ansioso pelo próximo livro para perceber o que algumas personagens farão.
Com a introdução de algumas personagens, era óbvio que alguma me diria mais do que outras, tal aconteceu, mas uma vez mais é nos capítulos de Jaime que a minha leitura acelera. É realmente o meu preferido e explicar o porquê seria um grande spoiler. No entanto quem já tenha lido poderá perceber o porquê mesmo que não goste.
Para já pouco mais há a dizer. Martin mantém o seu mundo coerente, não deixa desmoronar o realismo da história depois de todos os fãs lhe fazerem vénias ao livro anterior, seguindo fiel ao seu estilo. Não será certamente o livro favorito de nenhum dos leitores da saga, mas qual é a grande saga que não precisa de respirar fundo antes do grande mergulho final?
Uma saga que já não consigo largar. Darei uma opinião mais objectiva e detalhada no fim do próximo livro. Até lá continuem a ler!

Uma última palavra de novo elogio à editora. As imagens das capas dos livros estão muito bem conseguidas, são cativantes. Alguns poderão argumentar que tais imagens não encaixam bem na história, ou que não revelam o essencial do livro, mas na minha opinião estão muito boas e demonstram o trabalho desta editora numa saga que cada vez mais conquista adeptos.

terça-feira, 20 de setembro de 2011

O ESTRANHO CASO DE BENJAMIN BUTTON

Autor:   F. Scott Fitzgerald          

Título original: The Curious Case of Benjamin Button


Muitos críticos dizem que “O Grande Gatsby” de F. Scott Fitzgerald marcou a literatura Americana do último século tal como “As aventuras de Huckleberry Finn” de Mark Twain marcaram o século XIX. Confesso que apenas li o livro de Twain, mas acabei por ler um pequeno conto de F. Scott Fitzgerald, “O Estranho Caso de Benjamin Button”, que nos últimos anos ganhou nova projecção com a adaptação para o cinema.
Este pequeno conto encantou-me grandemente pela sua singularidade, pela ideia (que partiu do próprio Mark Twain) de lermos sobre uma personagem que nasce velha e vai ganhando lentamente a juventude, deixando para trás as doenças, a incapacidade, para abraçar a força, agilidade e saúde própria de uma idade mais nova.
Primeiro devo dizer que o livro e filme são muito diferentes. Há várias diferenças que são suficientemente significativas para quem tiver visto o filme poder ler estas páginas e encontrar surpresas agradáveis. Surpresas estas que não irei revelar.
Este é um livro belo, onde Fitzgerald tem a capacidade de em cada linha nos mostrar algo de belo, algo pelo qual se dê valor à vida, mesmo que seja a vida de um rapaz com 5 anos mas que apresenta todos os problemas de um velho de 80 em enorme decadência. Este é um livro que nos mostra que a idade nunca poderá ser o que limita um sonho. Para se sonhar e concretizar esse sonho basta estar vivo. E é isso que esta personagem nos ensina!
O Ser Humano tem a enorme tendência de ao longo da sua vida dar menos valor ao que já tem, e para a grande maioria estar vivo é um dado adquirido, não há a sombra da morte nos nossos dias da juventude, talvez até meio da nossa vida. Com Button é o contrário. Temos uma personagem que nasce, que vai melhorando, descobrindo o mundo, mas que quer viver mais do que a sua condição lhe permite, e ao não consegui-lo, dá um valor à vida que poucos igualam, pois a verdade é que durante todo o livro, Button nunca tem a idade certa para apreciar a vida. São inúmeras as situações, oportunidades, que Button não agarra de braços abertos porque está velho na fase da sua adolescência, para depois de muitos anos a esperar pela força da juventude, já a sua mente estar cansada, e uma vez mais sentimos que falta a capacidade de viver a vida com tudo o que ela tem para oferecer.
Com uma personagem tão singular, Fitzgerald consegue criar momentos que ajudam a perceber como Button está longe de todos o que o rodeiam. Quando se apresenta demasiado velho, Button tem na realidade a idade de uma criança, mas todas as pessoas com quem cruza caminho acreditam na sua enorme experiência de vida, levando os diálogos a questões, conversas ou até a situações que Button não consegue perceber ou enfrentar. Por outro lado quando está numa idade avançada, Button apresenta a gloriosa juventude e apercebe-se da falta de respeito que as pessoas lhe dão, principalmente às suas palavras, pois é apenas um “puto”. Todas estas situações, levam Button a questionar certos valores e ideais, e tal nota-se na forma como os seus olhos observam a sociedade. A enorme diferença entre o leitor e esta singular personagem tornam este livro numa experiência única e que merece ser lida.
Com tamanha singularidade, Button “acelera” muito lentamente para a vida, levando-o a mudanças de “cenário” e de amigos, mudando constantemente, e uma vez mais a diferença. A criança que por ser velha cresce com pessoas idosas, de enorme experiência, que lhe falam como iguais, levando-o a um desenvolvimento mental único dentro da sociedade. Por vezes dá a ideia que Button ao aparentar ter, por exemplo, 50 anos, e convivendo com pessoas que têm realmente essa idade, ele sabe o que espera essa pessoa. O declínio da idade, a dependência, e acaba por as perceber por um lado, não percebendo no entanto o que eles já viveram, pois a Button falta a Era da juventude.
Como disse antes, o filme e livro são distintos, e se gostei do filme, achei o livro ainda melhor. Uma experiência única, com uma personagem singular, com a qual nos preocupamos, que caminha para um destino que não encaixa no nosso senso comum, um homem que caminha para a morte com um aspecto de novo, mas apenas por fora. Uma personagem que lamentamos não conseguir aproveitar totalmente a sua vida simplesmente porque nasceu velho. E se Button chega a fazer comparações, entre por exemplo o seu pai e o seu filho, também nós leitores faremos tais comparações ao ler as palavras de Fitzgerald, que afirmo aqui serem de grande qualidade.
Este é um belo livro, com uma mensagem para todos que o leiam, talvez com significados diferente para cada leitor. Eu pessoalmente adorei a ideia base, a personagem principal e a capacidade do autor me fazer pensar em cada página pelo que indirectamente está associado às palavras que li, tornando este livro em algo mais do que aquilo que está escrito.
Livro pequeno, que se lê rapidamente, que agradará a uns, a outros nem tanto. Eu adorei-o.

sábado, 17 de setembro de 2011

OS GUARDIÃES DOS MORTOS - Trilogia "A dança de Pedra o Camaleão"

Autor: Ricardo Pinto

Título original: The Standing Dead – Book Two of “The Stone dance of the Chameleon” Trilogy


Pouco tempo após ler “Os Escolhidos”, primeiro volume desta trilogia, agarrei este livro com um misto de medo e esperança. O primeiro volume apresentara-se magnífico em vários aspectos mas o ritmo lento de Ricardo Pinto poderia afastar-me aos poucos das suas páginas.
Este livro começa no exacto momento em que o anterior acaba e desde cedo percebemos que este livro irá desenrolar-se à volta de duas personagens, e que distintas personagens. Carnelian, personagem principal, torna este livro quase deprimente em certos momentos, pois ele próprio o é, com a sua fraqueza, angústia e dilema interior. Tal facto poderá afastar alguns leitores que possam mesmo querer “dar um murro” no rapaz, mas por outro lado, a personagem é consistente com o que já conhecemos desta série e penso que dá um toque especial ao livro. No entanto é a personagem de Osidian que se eleva neste livro e sinceramente achei-a muito boa. É certamente o grande trunfo deste livro em relação ao anterior. Com enorme densidade, uma mente objectiva e uma capacidade para manipular acontecimentos, Osidian é a personagem sobre a qual gostamos de ler, mesmo sem nos identificarmos com este rapaz. A sua obsessão é doentia e muito bem conseguida e impulsionou-me a continuar esta leitura.
Em relação ao livro anterior, que apresentava uma narrativa lenta, este livro é mais rápido, mas apenas ligeiramente, o que me desiludiu. Se no primeiro livro Ricardo Pinto descreve-nos o mundo onde os seres das raças superiores vivem, agora temos o lado inverso e olharemos para o mundo no qual as raças inferiores lutam pela sobrevivência. Pinto volta, uma vez mais a espantar-me neste aspecto. Um mundo fabuloso, incrivelmente bem criado, desde a cultura, mentalidade, acções, flora, fauna, tudo está a um nível superior… mas o ritmo lento da história também está presente, e este é um aspecto que alguns não irão apreciar.
Outro aspecto que poderá afastar alguns mas aproximará outros leitores é a violência. Se no primeiro livro já me “arrepiara” com as descrições de Pinto, agora neste novo olhar para o mundo dos inferiores, iremos presenciar uma violência que marca este livro como algo que uma criança não deve ler. Esta violência foi o que mais gostei neste livro (e acreditem que não sou grande adepto da violência descritiva da grande maioria dos livros), porque trata-se de algo que tem uma base na história, é credível, e acima de tudo é algo que se enquadra não só com o mundo criado por Pinto mas também na nossa própria realidade, e tal semelhança chega a assustar.
Este livro não é para qualquer um. Um leitor que goste de acontecimentos rápidos, sem grandes descrições visuais, não irá gostar deste livro, provavelmente não o acabará. Pessoas que se sintam enojados com cenas de violência, racismo ou homossexualidade, não acabarão este livro. Por outro lado este é um livro para os fãs de fantasia bem criada e estruturada, com um mundo único, exaustivamente detalhado, uma obra-prima pela criação do mundo na qual se enquadra. 
A história, tal como no livro anterior, é boa, mas não deslumbra, ficando à sombra do mundo onde se desenrola. Mantém a base de intriga política, adiciona-lhe a sede de vingança e fica a sensação que o terceiro livro será melhor, mas será mesmo?
As duas personagens, como disse antes, são distantes na personalidade, e essa distância é um ponto forte, pois ajuda a mostrar a verdadeira natureza deste mundo sem nunca nos sentirmos deslocados. Quem ler perceberá o que digo.
Falta ler o terceiro livro (este segundo livro acaba no melhor momento em que o ritmo começa a acelerar) para ter uma ideia geral, pois neste momento não sei se recomendo este livro pelo seu mundo, ou se também a história poderá alcançar um bom nível. Neste momento há o misto de sensação por estar a ler algo que realmente é bom, aliás, é muito bom, apesar de não ser tão viciante devido ao seu ritmo. Um dia irei ler o terceiro e último livro. Até lá ficará sempre a dúvida se Ricardo Pinto conseguiu dar um grande final de história a um mundo que merece ser recordado e que fica para a história. Para já ficarei à espera de um dia ter esse final nas mãos e entretanto recordarei estes livros como um mundo brilhante, uma obra-prima da criatividade.

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

O PLANETA DOS MACACOS

Autor: Pierre Boulle

Título original: Le Planet des Singes

Quando há algum tempo me emprestaram este livro, comecei a lê-lo de imediato e as expectativas altas que tinha estavam ao nível da qualidade do livro. É na minha opinião um livro excelente, que levanta várias questões que encaixam na perfeição na história central, tornando este livro numa obra completa e coerente.
Seguindo a história de Ulysse somos brindados com uma realidade difícil de imaginar, onde os Homens são agora governados por Primatas (gorilas, macacos, chimpanzés, etc…). Este mundo é bem conseguido, principalmente na mentalidade que o envolve, com os Primatas a darem como seguro que o Homem não é inteligente, não pode, não será. Tal como nós fazemos agora em relação a eles. 
Esta mentalidade forte, bem estruturada, leva os Primatas a serem cegos em relação a certos acontecimentos que não “querem” ver, mas conduz-nos também a um conjunto de situações que questionam o próprio comportamento Humano na realidade fora do livro.
Primeiro percebemos a diferença que serve de mensagem a todo o leitor, esta diferença é o facto de todos os Primatas conseguirem viver em harmonia, com direitos, deveres e respeito. A escrita de Boulle consegue, de forma muito subtil, enaltecer este facto enquanto critica o facto de o Homem não o conseguir.  
O próprio comportamento dos Primatas em relação aos humanos pode ser vista como mais uma subtil crítica a uma espécie que estando no topo da cadeia alimentar, tem a capacidade de fazer o que quer com os recursos, natureza, etc… uma vez mais os Primatas não apresentam a mentalidade consumista e de produção sem limites que os humanos apresentam na realidade. Uma vez mais a subtil crítica, e que tal como as outras, se estivermos distraídos não as iremos notar de imediato.
Claro que ler um livro onde o Homem é tão inferior a uma espécie que nós conhecemos, leva-nos a questionar a própria condição humana e as consequências das nossas acções, a forma como olhamos para os animais e o que fazemos ao seu habitat. A questão que se levanta, apesar de improvável, é se um dia deixaremos de ser os donos do Planeta e acabaremos por precisar e ser dependentes daquilo que estamos agora a destruir, seja isso uma floresta, um lago, um simples sombra para nos arrefecer enquanto respiramos o quase inexistente ar puro. Claro que estas questões não estão presentes no livro, mas indirectamente obriga-nos a pensar nelas.
Não tendo uma personagem que se apresente a um patamar superior de qualidade, este livro vale pelo Universo criado, pelas questões, pela singularidade da posição em que coloca o Homem. É a luta pela sobrevivência, é a luta para ser respeitado, mas a troca é aquela que nós próprios costumamos dar e agora recebemos: a escravidão e aprisionamento de uma espécie que não queremos temer um dia. É isso que os Primatas fazem. Amedrontam-nos. No entanto é muito satisfatório ver como a personagem, tal como o leitor, ao "sentir na pele" a grande maioria dos acontecimentos do livro, quer tenham como base o racismo ou outros factores, a personagem Ulysse questiona-se, cada vez mais sobre a capacidade de governar um planeta, o que é necessário para o fazer, e a responsabilidade de quem tem tal poder nas mãos. Esta viagem até às respostas torna este livro ainda melhor, torna-o um livro adulto e maduro.
Realço ainda que o fim deste livro é soberbo, dos melhores que já li, por ser tão imprevisto, e principalmente por estar coerente com tudo aquilo que o livro constrói nas suas páginas. Uma verdadeira chapada na cara. Se viram a adaptação de Tim Burton para o cinema não pensem que conhecem o final deste livro, está longe do magnifico fim deste livro, muito bom e que nos deixa a olhar para o livro durante minutos depois de o acabarmos.
É um livro que não sendo um dos melhores livros de sempre de Ficção-Científica, é obrigatório pela sua singularidade e enorme qualdiade. É um livro melhor do que os filmes, mais completo, que passa melhor a mensagem base, que levanta questões de racismo, jogos de poder, intriga política, etc... No entanto há questões que ficam a pairar do ar, sem nunca serem explicadas. Claro que são questões que alguns nem notarão, outros arranjarão respostas a partir de teorias… eu gostava de as ver respondidas por Pierre Boulle.
Se gostam de livros de Ficção-científica com questões filosóficas, um mundo coerente e completo, uma boa escrita e a intriga política que quase não se nota a cada linha, então este livro é para lerem! Se gostam de ser surpreendidos no final, então é impossível de perder.

Uma última palavra para um facto e um pedido da minha parte. Há anos que tento comprar este livro em Português e nunca o consegui encontrar. Aliás, nem sei que editora o traduziu, e este imagem que coloco aqui não é sequer a capa do livro que eu li. Se alguém souber qual a editora ou onde posso comprar esta obra, diga-me, pois é um daqueles livros que vale a pena ter na estante para reler um dia. Pode ser que com o novo filme alguma editora faça este livro aparecer nas lojas!